quinta-feira, 1 de novembro de 2007

E esse hiato truncado quem soletra?

"Hiato

Nem o corpo transborda nem o tempo

recua. A mão carece

e o sabe. Todo gesto nos encurta.

Para todos os lados somos nós.

e os muros, limitado

cone de nervos, solidão de braços.

E o que em nós se guardou mal nos conhece.


Aqui se esteve e , isento, outro se volta.

Esperou-se acordado, como idêntico,

e a fração, cinco sextos do momento,

deixou tudo de fora.

Acaso é por espaços que se cortam

as raízes ao tempo

ou antes foi de manso e pelo peito

que cresceram com dedos de memória

para dentro?


Mal se pergunta,

mas em tudo, vão, talvez, que se recorda,

no corpo ardia a seiva

ou se ajustava

tempos nas veias

o espaço recolhido que em nós morre?

Morreu-se um pouco e sofre

a sílaba quebrada que se tece

de negativas

não, amor, quando, e era a vida

que, consentida, é um laço a mais, teu lábio e a terra.

E esse hiato truncado quem soletra?"


Bruno Tolentino - anulação & outros reparos


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