"Os ismos são sempre formas viciosas. O excesso de fidelidade ao objeto cria o realismo; à impressão, o impressionismo; à expressão, o expressionismo.
Mas as formas viciosos conhecem graus; são mais ou menos viciosas
Como atravessamos no Ocidente uma fase histórica que se caracteriza pelas especializações, o espírito do especialista, que é sempre um espírito abstrato, penetrou na própria arte que conhece especializações, que se sectariza, que se separa.
Podemos distinguir três graus de sectarização, de particularismo, de especialismo.
1) Quando se dá mais valor, isto é, quando se dá a ênfase de valor a um valor, que predomina sobre os outros, que continuam, no entanto, tendo presença atual.
Por exemplo, no realismo, há presença de um valor objetivo mais acentuado que os outros, que continuam presentes na obra de arte. No simbolismo, o valor simbólico é predominante, mas outros continuam ainda presentes.
2) Exageração do valor atualizado, ao qual se dá ênfase, com enfraquecimento crescente dos outros valores e já com ausência de alguns invariantes.
Temos o exemplo do expressionismo, que valoriza exageradamente a expressão, e reduz outros valores ao mínimo e não oferece até a presença de muitos outros.
3) Exageração máxima do valor atualizado (ênfase total), com ausência de quase todos os outros valores. Ex. no abstracionismo, que afasta outros valores para acentuar exageradamente um ou alguns.
É natural que os cultores dessas fases justifiquem com palavras a sua atitude. Uma revisão do pensamento humano nos mostra que, com palavras, a inteligência humana é capaz de justificar todas as deformações. Basta que examinemos o pensamento político para que vejamos com que clareza se verifica a deformação dos raciocínios para servirem aos interesses deste ou daquele grupo, desta ou daquela atitude. Na arte se verifica o mesmo.
Vemos, por exemplo, belas exposições teóricas, argumentos eloqüentes para justificar uma atitude artística. Quando em face dos fatos, permanecemos espantados. É que os frutos não correspondem à árvore.
Muitas realizações artísticas são meros partos da montanha : ridículos ratos...
Não seria possível aqui mostrar as discussões que se dão entre as diversas correntes, escolas e atitudes artísticas, pois ultrapassa os limites desta obra. No entanto, quase todas se consideram a verdadeira e fora das quais não há salvação, caindo num dogmatismo ridículo e verbalista.
Pretendemos apenas dar ao leitor uma capacidade criteriosa de apreciação, que o capacite a penetrar com equilíbrio na contemplação de uma obra de arte, e que o impeça de cair nos exageros tão comuns, próprios de nossa época de confusão, e que desaparecerão com ela."
Mário Ferreira dos Santos - Convite à estética
Mas as formas viciosos conhecem graus; são mais ou menos viciosas
Como atravessamos no Ocidente uma fase histórica que se caracteriza pelas especializações, o espírito do especialista, que é sempre um espírito abstrato, penetrou na própria arte que conhece especializações, que se sectariza, que se separa.
Podemos distinguir três graus de sectarização, de particularismo, de especialismo.
1) Quando se dá mais valor, isto é, quando se dá a ênfase de valor a um valor, que predomina sobre os outros, que continuam, no entanto, tendo presença atual.
Por exemplo, no realismo, há presença de um valor objetivo mais acentuado que os outros, que continuam presentes na obra de arte. No simbolismo, o valor simbólico é predominante, mas outros continuam ainda presentes.
2) Exageração do valor atualizado, ao qual se dá ênfase, com enfraquecimento crescente dos outros valores e já com ausência de alguns invariantes.
Temos o exemplo do expressionismo, que valoriza exageradamente a expressão, e reduz outros valores ao mínimo e não oferece até a presença de muitos outros.
3) Exageração máxima do valor atualizado (ênfase total), com ausência de quase todos os outros valores. Ex. no abstracionismo, que afasta outros valores para acentuar exageradamente um ou alguns.
É natural que os cultores dessas fases justifiquem com palavras a sua atitude. Uma revisão do pensamento humano nos mostra que, com palavras, a inteligência humana é capaz de justificar todas as deformações. Basta que examinemos o pensamento político para que vejamos com que clareza se verifica a deformação dos raciocínios para servirem aos interesses deste ou daquele grupo, desta ou daquela atitude. Na arte se verifica o mesmo.
Vemos, por exemplo, belas exposições teóricas, argumentos eloqüentes para justificar uma atitude artística. Quando em face dos fatos, permanecemos espantados. É que os frutos não correspondem à árvore.
Muitas realizações artísticas são meros partos da montanha : ridículos ratos...
Não seria possível aqui mostrar as discussões que se dão entre as diversas correntes, escolas e atitudes artísticas, pois ultrapassa os limites desta obra. No entanto, quase todas se consideram a verdadeira e fora das quais não há salvação, caindo num dogmatismo ridículo e verbalista.
Pretendemos apenas dar ao leitor uma capacidade criteriosa de apreciação, que o capacite a penetrar com equilíbrio na contemplação de uma obra de arte, e que o impeça de cair nos exageros tão comuns, próprios de nossa época de confusão, e que desaparecerão com ela."
Mário Ferreira dos Santos - Convite à estética